8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE) diz que recomendação é que ela não desempenhe mais atividades em sala de aula e seja designada para funções administrativas. Caso aconteceu em São Sepé.

A Secretaria Estadual da Educação (Seduc), por meio da 8ª Coordenadoria Regional de Educação (8ª CRE), decidiu pelo afastamento de uma professora das atividades em sala de aula em uma escola estadual em São Sepé, na Região Central do Rio Grande do Sul, após suposto caso de assédio contra um aluno de 17 anos. A Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave) entendeu que houve transgressão por parte da docente. O caso aconteceu em dezembro de 2022.

O relatório da sindicância punitiva sugere que a professora Ana Karla Kraemer seja designada para funções administrativas. A docente encontra-se em licença por problemas de saúde desde o episódio, que foi registrado em vídeo em 6 de dezembro de 2023 (veja acima). No vídeo, a professora grita com o aluno: “minha casa tem seis banheiros! Quantos tem a tua? Quantas casas tu tem? Quantos apartamentos na praia tu tem? Quantos carros tu tem?”.

O g1 entrou em contato com a professora Ana Karla Kraemer, que disse que ficar fora das salas de aula foi uma recomendação médica. Ela admitiu ter errado, mas se diz vítima de uma armação.

“Eu não consigo mais ministrar aula, pois tenho receio que aconteça a mesma coisa: alunos planejando como tirar uma professora do sério e filmando. Claro que errei ao perder o controle, mas quem nunca errou? (…) Tudo de bem que fiz para os meus alunos foi apagado. Só queria ter paz”, disse Ana.

Para o coordenador da 8ª CRE, José Luís Viera Eggres o afastamento é “situação decorrente de um desequilíbrio emocional dela”.

O relatório produzido pela comissão foi encaminhado a uma instância superior da Seduc, que deve endossar a decisão da 8ª CRE ou não, bem como ao Ministério Público, pois a situação envolveu um adolescente. Os prazos para as definições do que deve ser feito em relação à professora não foram divulgados.

Quanto ao aluno, Eggres afirma que ele recebeu acolhimento na ocasião do episódio flagrado em vídeo e é acompanhado por psicólogos e assistentes sociais da 8ª CRE.

Relembre o caso

O suposto assédio aconteceu no dia 6 de dezembro, durante uma aula de geografia do 1º ano do Ensino Médio no Colégio Estadual São Sepé, e foi registrado em vídeo.

De acordo com a mãe do aluno, que prefere não ser identificada, momentos antes da gravação do vídeo, a professora teria falado que sentiu um cheiro estranho na sala. Naquele dia, a escola ofereceu cachorro-quente aos alunos. A mãe suspeita que o cheiro era de tempero do lanche.

Após o começo da aula, o seu filho teria ido até o lixo e ficou perto da professora. Ana Karla, então, teria perguntado por que ele estaria cheirando ela. Ele negou. “Por que eu faria isso? Tenho mais o que fazer”, teria dito, voltando a se sentar no seu lugar. Depois disso, teria iniciado a discussão.

No vídeo, a professora questiona o aluno: “Minha casa tem seis banheiros! Quantos tem a tua? Quantas casas tu tem? Quantos apartamentos na praia tu tem? Quantos carros tu tem?”. O aluno responde: “Agora, tu é melhor do que eu porque tu tem mais casas e mais coisas?”. No que a professora retruca: “recalcado! Tu é um recalcado!”. E o registro se encerra com o aluno se desculpando: “Então tá. Desculpa, então, se eu fui aí do teu lado. Não posso chegar do teu lado. Não chego mais”.

Acerto para evitar processo
A mãe do aluno, que é empregada doméstica, procurou um advogado depois que ficou sabendo do episódio. Ela se disse indignada com o que o filho sofreu em sala de aula.

“Realmente, eu não tenho tudo isso [o patrimônio que a professora disse ter]. Não tenho casas, carros, mas procurei educar os meus filhos dignamente. O que eu consegui hoje, eu consegui com muito trabalho. E, com isso, está sendo o suficiente para eles poderem levar a vida deles [dos seus filhos]”, conta.
Ela tem dois filhos: o de 17 anos e outro, que tem deficiência intelectual. Todos moram com ela junto da avó em uma casa, em São Sepé.

Inicialmente, ela foi orientada a registrar um boletim de ocorrência na delegacia de polícia, procurar o Ministério Público (MP) e, além disso, ajuizar uma ação na Justiça contra o estado pelo crime de “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento”. A ação seria contra o estado e não contra a docente, pois, no episódio, ela estava na condição de professora dentro da instituição. No entanto, a mãe do aluno e a professora entraram em acordo para evitar o processo.

De acordo com a família do estudante, existe um termo de confidencialidade que impede a divulgação de detalhes do que foi acordado. Apesar disso, foi possível dizer que ele evita que seja movido um processo contra o estado devido ao comportamento da professora.

O acerto entre a família do aluno e a professora não interfere na sindicância do estado.

 

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