Os números de queimadas e incêndios florestais na Amazônia e no Pantanal já registram recordes, segundo levantamento feito pelo Greenpeace Brasil nesta terça-feira, 15. Nesta segunda-feira, 14, a Amazônia superou o total de focos de calor registrados em todo mês de setembro de 2019, mesmo com a proibição de queimadas imposta pela moratória do fogo desde 16 de julho. Somente nesses primeiros 14 dias, foram registrados 20.486 focos de calor, um crescimento de 86% em relação ao mesmo período do ano passado. Em 2020, já foram identificados 64.498 incêndios no bioma. “Enquanto isso, na semana passada, mais uma vez, o governo — na figura do vice presidente — descredibiliza os dados do INPE, falando em diminuição das queimadas na Amazônia”, afirmou Rômulo Batista, porta-voz de Amazônia do Greenpeace Brasil.

Já no Pantanal, foram 689 incêndios registrados. 12% da extensão do bioma, de acordo com o Greenpeace, já foi destruída pelo fogo até o final do mês de agosto, causando a morte de milhares de animais e fazendo outros milhões deles perderam seu habitat. Os 15.453 incêndios neste ano no bioma já é o maior da série histórica do monitoramento realizado pelo INPE, que começou em 1988. O Cerrado, savana mais biodiversa do mundo, é outro bioma que segue em chamas. Apesar dos números totais serem um pouco menores do que o ano passado, 5,45%, somente nos primeiros 14 dias de setembro foram registrados 13.619 focos, um aumento de 9,2% em relação ao mesmo período de 2019. Somente neste ano, já são 37.824 incêndios e queimadas no bioma. “A responsabilidade disso é da política antiambiental do governo federal, com o falso discurso de que a destruição ambiental é necessária para o desenvolvimento econômico. Está na hora de todas pessoas, empresas e governos que estão realmente comprometidos com o futuro desses biomas, e também com o próprio planeta Terra, exigirem que o governo brasileiro tome providências para acabar com a destruição do meio ambiente e impedir que os maiores tesouros do nosso país virem cinzas para o lucro de uma pequena minoria”, disse Batista.

O que diz o governo

O vice-presidente Hamilton Mourão afirmou que as queimadas que estão ocorrendo na Amazônia não são “padrão Califórnia”, referindo-se aos incêndios que também têm ocorrido no Estado norte-americano. Em entrevista concedida neste sábado, 12, à noite para a rede CNN, Mourão comentou que a medição do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) – que faz monitoramento dos focos de incêndios na região – acusa “focos de calor” nas imagens de satélite, “o que não significa incêndio”. “Vários focos juntos é que vão constituir um incêndio, dependendo da área em que estiverem localizados”, disse Mourão e continuou: “Qualquer área acima de 47 graus vira foco de calor; uma fogueira vira foco de calor, mas não é incêndio. Não estou desmistificando nada, mas temos de dar a devida proporção ao que está acontecendo na Amazônia.”

Sobre a campanha Defund Bolsonaro, que tomou as redes sociais na semana passada, Mourão disse que se trata de um trabalho “contra o Brasil” e que de “oposição política”. “Temos de responder com trabalho, com ações e trabalhar”, disse Mourão, acrescentando que já no fim de janeiro o presidente Bolsonaro deu uma resposta “enfática e pragmática” para lidar com a questão do desmatamento na Amazônia, ao criar o Conselho da Amazônia, que permite a “sinergia” dentro do governo para lidar com a questão. “Existem ilegalidades (na Amazônia), mas estamos combatendo. Lembrando que a Amazônia é uma região de dimensões ciclópicas e é pouco integrada ao território brasileiro”, disse. “Esses fundos, esses investidores, têm de entender o que é a Amazônia.”

Já ministro do Meio AmbienteRicardo Salles, justificou que o fogo que toma parte do Pantanal já há alguns dias não pode ser evitado porque “questões ideológicas” impediam ações preventivas. “Existe uma queima preventiva, conhecida como ‘fogo frio’, que é provocar uma queimada controlada com o objetivo de reduzir massa orgânica, a que serve como combustível para o fogo. Quando vem o incêndio, vem em altas proporções”, explicou. Ele também citou a criação de gados soltos, que ajudariam no combate às queimadas como forma de prevenção, e ao despejamento de “água antifogo”. “Por uma questão ideológica, não deixam usar. Isso tornaria o despejamento de água cinco vezes mais eficiente”, completou.