Atualmente, chegar no largo São Francisco, centro histórico da capital paulista, é se deparar com uma cena impressionante. Uma fila enorme de pessoas que aguardam, ansiosas, para pegar uma marmita, um pão francês e um garfo de plástico. Há anos participando de projetos sociais, o Frei João Paulo, coordenador do Serviço Franciscano de Solidariedade, diz nunca ter visto algo parecido. “Com a pandemia, as pessoas físicas e ongs pararam de doar na rua e a galera toda desceu para o Chá do padre. E a gente não conseguindo atender toda essa população, a gente ficou inquieto e surgiu a ideia de uma tenda”, explica.

É na tenda improvisada em frente a faculdade de direito da Universidade de São Paulo que o Frei João Paulo e dezenas de voluntários entregam, todos os dias, no almoço e na janta, mais de 1.200 marmitas. Com a pandemia, os líderes de projetos sociais relatam que o número de pessoas que passaram a morar nas ruas aumentou consideravelmente e, enquanto o desemprego ainda continua alto, continua subindo. O último levantamento oficial da Prefeitura de São Paulo apontou aumento de 53% na população de rua na capital, passando de quase 16 mil em 2015 para 24.300 em 2019.

A quantidade de marmitas também mostra ser um bom termômetro para a situação. Segundo o Frei João Paulo, o número de refeições diárias servidas em todos os pontos de atendimento no Centro de São Paulo passou de 2.000 em março para mais de 5.000 em maio. “O grande número de partilha são pessoas que tinham seu emprego, já tinha saído das ruas e tinham conseguido se habilitar na sociedade, mas perderam os empregos e voltaram para as ruas”, afirma.O Movimento Nacional da População de Rua também sentiu o aumento na procura pelos serviços assistenciais. Eles fazem doações de cestas básicas, cobertores, barracas e kits higiene, além de produzirem camisetas para projetos sociais, tudo com a ajuda de moradores de rua. Darcy Costa, porta-voz do movimento, diz que as autoridades ainda não tomaram medidas adequadas para ajudar essas pessoas. A prefeitura diz ter criado mais de 1.200 vagas em abrigos municipais na cidade de São Paulo, principalmente no centro da capital. O órgão também afirma ter aberto 150 vagas em hotéis, além de ter distribuído kits e aumentado o número de banheiros espalhados de acesso público aos moradores de rua.

*Com informações do repórter Leonardo Martins